Bando de Dois. Crédito: editora Zarabatana

Álbum de Danilo Beyruth tem lançamento neste sábado à tarde em São Paulo

Os leitores que já somam muitas milhas nas viagens narrativas sabem da importância do começo de uma obra. Se agradar, ganha o leitor. Se não, corre o risco de perdê-lo de vez.

A se pautar por isso, "Bando de Dois" vai fisgar quem comprar o álbum, que tem lançamento neste sábado à tarde em São Paulo (Zarabatana, 96 págs., R$ 36).

As primeiras páginas da obra formam um dos inícios mais instigantes e bem narrados desde que o quadrinho nacional enveredou pelo caminho das histórias mais longas.

É como um plano sequência do cinema, com sucessivos movimentos de câmera, até encontrar o personagem no cenário árido. Quando se dá conta, o leitor já está inserido na trama, escrita e desenhada por Danilo Beyruth.

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O álbum mostra dois cangaceiros - Tinhoso e Cavera di Boi - à caça do pelotão que matou, numa emboscada, todo o bando de que faziam parte.

Mais do que o extermínio, o grupo cortou todas as cabeças das vítimas e perambula com elas pelo sertão brasileiro.

O líder do bando aparece a Tinhoso e pede a ele que dê fim às cabeças do bando. Só assim, os mortos (vivos?) encontrariam a paz no pós-vida.

A dupla parte para a empreitada. Na falta dos demais, formam o tal bando de dois que dá título à obra.

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O trabalho de Beyruth envereda por uma trilha pouco explorada nas narrativas gráficas nacionais mais longas, a da ação. Ora mais, ora menos, ela está presente em toda a obra.

Não por acaso o autor e a editora rotularam o álbum como um bangue-bangue à brasileira. Há, de fato, os elementos centrais do gênero. Mas o brilho está no modo de narrar.

Os desenhos de Beyruth casam com a ambientação que ele se propôs a criar para a trama. E ele constrói pelo menos um segundo momento que ajuda a dar aquele algo a mais à obra.

O autor estabelece um novo uso para as onomatopeias nos quadrinhos. Revelar por que estragaria parte da cena. Pode-se dizer que apenas que ocorre perto do final.

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"Bando de Dois" foi um dos dez projetos selecionados em 2009 pelo edital do governo paulista de incentivo à publicação de quadrinhos. O álbum marca a estreia do quadrinista com as histórias mais longas.

Até então, ele era mais conhecido pelas aventuras de Necronauta, publicadas desde 2007, primeiro de forma independente, depois reunidas em volume único no fim do ano passado.

O personagem já trazia um tratamento diferenciado, mais autoral. Com este novo álbum, Beyruth mostra que é capaz de muito mais. Ele criou um dos principais álbuns do ano.

No atual mercado de quadrinhos brasileiro, há obras que conquistam fama no grito e outras que se firmam por méritos próprios. "Bando de Dois" se enquadra no segundo caso.

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