Yeshuah - O Círculo Interno o Círculo Externo

Álbum de Laudo Ferreira Jr. inicia nesta sexta-feira série de lançamentos em São Paulo e no Rio de Janeiro

A proximidade das festas de final de ano ofuscou para muita gente - leitores e críticos - o lançamento do primeiro volume de "Yeshuah" em 2009.

Um erro, como comprova a segunda parte da obra, que inicia nesta sexta-feira à noite uma série de lançamentos em São Paulo e no Rio de Janeiro (Devir, 136 págs., R$ 22,50).

O trabalho do paulista Laudo Ferreira Jr. mantém a premissa da etapa anterior, a de reconstruir a trajetória de Jesus tomando como base textos canônicos e apócrifos.

Assim como no volume anterior, revela um olhar pessoal sobre o tema, com maior foco em suas pregações e milagres. E acrescenta mais um tijolo naquela que é a obra mais autoral do quadrinista.

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"Yeshuah - O Círculo Interno o Círculo Externo", título do álbum, mostra a fase adulta de Cristo e o início da peregrinação milagrosa dele.

Ao contrário da primeira parte, que esmiúça um lado desconhecido de Maria, este novo volume se pauta em situações mais familiares ao leitor, herança da cultura cristã.

Das tentações no deserto à pescaria em mar sem peixes, os fatos são recontados com pauta nas pesquisas feitas pelo autor - a literatura consta no final da obra.

O trabalho também revela as primeiras aproximações com os discípulos, em particular com Simão, convertido de pescador em um de seus seguidores.

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Apesar de familiares, as situações são narradas sob a leitura pessoal do autor, tanto no texto quanto nos desenhos.

A arte pode incomodar quem está mais acostumado às representações tradicionais de Cristo. João Batista, por exemplo, é mostrado sem parte dos dentes.

No texto, algumas situações podem fugir ao que convencionalmente se prega. A multiplicação dos pães, no álbum, tem mais ares de divisão que de milagre.

E os nomes são os da versão hebraica. Jesus é Yeshu, Maria é Miriam, Simão é Shimon, Herodes é Hordus, Deus é Adonai. O "yeshuah" do título significa salvação.

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Uma lista, no final da obra, traduz para o leitor esses e outros nomes do hebraico. Outro sinal da farta pesquisa de Laudo Ferreira Jr., que começou a pensar o trabalho há dez anos.

Laudo Ferreira Jr. transformou o projeto em uma história madura, que, se feita no exterior, causaria um rebuliço muito maior - vide o impacto de "Gênesis", de Robert Crumb.

O planejamento do autor inclui uma terceira e última parte. Já em produção, está programada para o ano que vem e abre uma nova fase profissional do quadrinista.

Além de "Yeshuah", ele produz outros dois álbuns, um sobre os músicos mineiros do Clube da Esquina e outro sobre uma adaptação de obra de Gil Vicente.

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O senão desta segunda parte é algo que não depende propriamente da obra em si.

Por mais qualidades que tenha - e tem -, ela fica na incômoda posição editorial de ser a sequência de uma narrativa já iniciada e o gancho para a seguinte.

Para ser mais bem compreendida, há de se ver o volume final e verificar de que maneira será contado o calvário de Cristo. O ideal seria ler as três partes em sequência.

É algo parecido com o que ocorreu com a série "Persépolis", de Marjane Satrapi. Publicada inicialmente em quatro volumes, funcionou melhor quando lançada em edição única.

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Por:blog dos quadrinhos