quinta-feira, 21 de outubro de 2010

SEU MADRUGA: VILA E OBRA,por wélinton

Em seu livro Groucho-marxismo, o filósofo anarquista Bob Black prega, sem rodeios, que “ninguém jamais deveria trabalhar (…) Para parar de sofrer, precisamos parar de trabalhar”. Seu Madruga, o desempregado crônico que garante de forma involuntariamente tragicômica a alegria – e o pathos – da vila onde mora o garoto Chaves, nunca ouviu falar de Black. Mas certamente gostaria de seus escritos.
A inusitada ponte entre o subversivo e o malandro mexicano é uma das conclusões a que Pablo Kaschner chega em seu livro “Seu Madruga – Vila e Obra” (Editora Mirabolante). O autor, carioca de 28 anos que já editou outro livro (”Chaves de um sucesso”) sobre o humorístico mexicano exibido pelo SBT, compôs menos uma biografia do que um “livro-homenagem” sobre o personagem, tido como o mais popular do programa entre os fãs brasileiros (e não só eles). Para Kaschner, Madruga, criação do ator Ramón Valdés (1923-1988), desperta tanta identificação por incorporar (com sua aversão ao trabalho, as dívidas eternas, as humilhações e o humor diante das dificuldades) um pouco do caráter do brasileiro típico.
– Mesmo mexicano, Madruga tem o famoso jeitinho brasileiro – constata o autor, diplomado em rádio e TV. – Dos personagens do Chaves, ele é o mais maroto, o que dá voltas nos outros, o mais politicamente incorreto. Basta andar pelas ruas das cidades brasileiras e é possível encontrar sósias do Seu Madruga em todo lugar.
Apesar de não ter um caráter de ampla pesquisa biográfica, “Vila e Obra” traz muita informação e curiosidades sobre Valdés e seu mais famoso personagem, tudo em tom muito bem humorado. Dividido em 14 capítulos (um para cada mês de aluguel que Madruga deve ao Seu Barriga, dívida que nunca será saldada), o volume mostra que Valdés já era um ator de carreira consolidada ao ser convidado para entrar em “El Chavo del Ocho” (nome original do programa Chaves) em 1971.
Para o autor, a preguiça e a vocação para o ócio de Madruga o tornaram um ícone latino-americano. Ou, como o próprio Kaschner brinca, “ladino-americano”:

– Ele agora é mais que um ícone pop. Nas ruas, há mais camisetas com o rosto do Madruga do que com a foto do Che Guevara – arrisca. – O interessante é que essa identificação superou um bloqueio histórico que os brasileiros tinham com a cultura mexicana, que aqui sempre foi sinônimo de dramalhão, de coisa brega. Costumo dizer que o Chaves conseguiu unificar a América Latina, algo que o (Hugo) Chavez não conseguiu.

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