segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O apanhador no campo de futebol, digo, de centeio.por torero


Ontem escrevi sobre o livro Barbosa, que li com dez anos de atraso. O de hoje li com mais atraso ainda. Uns trinta. “O apanhador no campo de centeio” (que em inglês tem o título bem mais curto de “The catcher in the rye” e em portuhguês chama-se "Uma agulha no palheiro") foi lançado em 1951 nos Estados Unidos e dois anos depois já era um clássico e um best-seller, com mais de dois milhões de exemplares vendidos (hoje já são mais de 60 milhões no mundo).

Li esta edição aqui.

Sempre tive curiosidade para ler este livro, mas, também, uma certa preguiça. Explico as razões: trata-se de um livro sobre a adolescência e suas dúvidas, um assunto que nunca me interessou (nem quando eu era adolescente), o escritor é um recluso, o que me parece meio antipático, e é uma tradução, o que nunca me anima muito.

Finalmente tomei coragem, peguei um exemplar emprestado de um amigo (obviamente não vou devolvê-lo, porque quem devolve livro nunca forma uma biblioteca decente) e me pus a ler suas 180 páginas.

E as li com rapidez. O que é um ótimo sinal.

Quando você gosta de um livro, aproveita todo o tempinho livre para lê-lo. Foi o que fiz com o “Apanhador...”. Em três ou quatro dias cheguei à última página.

Ele é ágil, com uma linguagem coloquial interessante, sem ser vulgar (o que provavelmente também se deve a um bom trabalho dos tradutores Álvaro Alencar, Antonio Rocha e Jório Dauster).

O livro, escrito em primeira pessoa, conta a vida, ou melhor, uns dias na vida do jovem Holden Caulfield, de 17 anos, que acabou de ser expulso da escola.

Ele descreve bem a psicologia de um adolescente sensível, de tal modo que você não tem saída e se interessa e se identifica com o personagem. Se eu o tivesse lido aos 17 anos, teria gostado mais ainda.

Trata-se de uma opção interessante para uma idade que hoje devora livros sobre mágicos e vampiros.

Não é uma obra genial, como Memórias Póstumas de Brás Cubas ou Grande sertão: veredas, mas é um livro muito bom, principalmente se você o lê na adolescência.

Salinger na época da publicação de "O apanhador..."

Uma curiosidade: O assassino de John Lennon, e o quase assassino de Ronald Reagan tiraram a inspiração para seus crimes do livro. Mas não entendo como. Não há nada no livro que sugira um ato violento.

Outra: Depois do sucesso de "O apanhador...", J.D.Salinger mudou-se para uma cidadezinha e deu raríssimas entrevistas: a última foi em 1980. Também publicou bem pouco: um livro de contos em 1953 e outro com duas novelas em 1961.

Essa reclusão me deixa curioso. Por que um sujeito que escreve, enfim, para se comunicar, desiste de escrever e até de falar?

Pensei em algumas possibilidades:

a-) Acha-se melhor que o mundo que o cerca.
b-) Timidez.
c-) Está de saco cheio de dar entrevistas.
d-) Marketing.
e-) Já disse o que acha que tinha a dizer.

Não sei qual o caso de Salinger. E nem saberei. Ele morreu no começo deste ano.


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